A senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em entrevista para o jornalista Sérgio Mendes (CBN), falou sobre os projetos que está desenvolvendo na CNA para fortalecer o setor agropecuário.
SÉRGIO MENDES – Senadora a senhora está assumindo a presidência da CNA com uma manifestação dos produtores muito produtiva. Quais são as prioridades da entidade para o setor e que esperanças o produtor pode ter?
KÁTIA ABREU – Nós precisamos o mais rápido possível reestruturar a política agrícola brasileira, não leis, leis nós já temos muitas e, que não são cumpridas. Nós queremos reestruturar o crédito rural brasileiro, com muita simplicidade; o mundo inteiro faz a mesma política, os países de primeiro mundo, abastecimento à população, renda para os agricultores. Aqui no Brasil é diferente, abastece a população copiando apenas 50% da fórmula mundial, mas não traz renda aos agricultores. Na realidade a comida barata e com qualidade está sendo onerada apenas pelo produtor rural. Não queremos que ninguém use e faça graça com o chapéu alheio. Nós conseguimos produzir sim, mas o governo não pode matar as galinhas do ovo de ouro, que são os agricultores do país. Precisamos ter comida de qualidade, comida barata na mesa do brasileiro, mas precisamos garantir a sobrevivência dos agricultores do Brasil, haja visto que os vazios institucionais, principalmente responsabilidade do Governo, não estão sendo preenchidos. Nós não temos estradas asfaltadas adequadas, não temos ferrovias suficientes, não temos hidrovias, que é o transporte mais barato - isso tudo leva nossa renda. Temos a carga tributária mais alta do mundo na cadeia de alimentos 16,9%, com isso o Brasil arrecada R$ 11 bilhões. Nos Estados Unidos a carga tributária em alimentos é 0,7%, na Europa 5%. Então precisamos fazer com que o governo possa estar na mão da história e não na contramão. Enfim, tudo isto tira nossa renda; precisamos reestruturar este crédito que vêm minguando ano a ano ao longo de 20 anos. O setor rural tem sido financiado pelo setor privado, pelas trades, pelas multinacionais, pelos fornecedores com juros que pairam entre 15 a 21% ao ano. Não existe nenhuma atividade que possa suportar um juro tão alto, especialmente o setor rural, que tem uma margem muito pequena de rentabilidade, isso quando tem. Se nós elegermos, hoje, as cadeias mais dinâmicas do país, os grãos e as carnes, vamos encontrar todas com um preço muito aquém do custo de produção.
SÉRGIO MENDES – Dois itens que preocupam os produtores: seguro rural e reserva legal, decreto 6514. O que os agricultores podem esperar da CNA?
KÁTIA ABREU – Estamos negociando com o ministro do meio ambiente (Carlos Minc) e com o ministro Reinhold Stephanes, aqui do Paraná, que tem sido um ministro bastante guerreiro neste sentido. Em principio queremos que a reserva legal e as Áreas de Preservação Permanente (APP), que são as margens de rios, possam ser inseridas nos 20% de reserva legal; e aqueles municípios, propriedades rurais que já foram totalmente desmatadas no passado, que possam compensar em outras bacias, não adianta querermos impor uma lei ao Paraná, ao Estado de São Paulo ou Rio Grande do Sul aonde os produtores não conseguirão cumprir, não por desejo próprio. Então, temos que dar condições de que a lei possa ser cumprida. O Paraná tem hoje apenas 5% dos 20% de reserva legal que deveria ter e, se nós formos restabelecer esses 15% de diferença no Estado, isso dará um grande prejuízo ao país, algo em torno de R$ 5 bilhões de reais por ano e o Brasil não está pronto e não pode perder uma margem dessa. Temos no país pessoas que passam fome, temos mais de 1 bilhão de pessoas no mundo que passam fome e não podemos nos dar ao luxo de reduzir área plantada e reduzir produtividade.
SÉRGIO MENDES – Pra finalizar, neste momento de crise o que a senhora pode falar para os produtores do Estado?
KÁTIA ABREU – Que nós estamos trabalhando três passos importantes. O primeiro é esta safra 2008/09, tratar da comercialização dela. Apenas 20% dessa safra foi comercializada até agora. No ano passado, nesta mesma época do ano, já teria sido comercializado mais de 50%. Então isso significa que em janeiro fevereiro nós teremos um excesso de produção, um excesso de produto para ser comercializado, portanto os preços deverão cair. Precisamos de R$ 4 bilhões de reais para que possam ser aplicados na comercialização desses produtos, tirar produto do mercado para sustentar o preço. Já temos R$ 1,5 bilhão, que foi anunciado no plano safra deste ano, conseguimos na comissão do orçamento que sou titular junto com a bancada ruralista mais R$ 1,5 bilhão, mas precisamos de mais R$ 1 bilhão, totalizando R$ 4 bilhões. O segundo ponto é a próxima safra 2009/10, que eu chamo de uma safra intermediária, entre uma crise e um projeto futuro. Estamos trabalhando um projeto junto com o Banco do Brasil, Ministério da Agricultura, entidades privadas, tentando montar um modelo, para que possamos ter uma transição nessas próximas safras e seguramente vamos precisar de um fundo garantidor do tesouro nacional. Não tem outro caminho e dali pra frente reestruturar um crédito rural que seja factível, que não só possa haver soluções nas épocas de crise, mas que seja uma rotina no país. Alguém quer fazer abastecimento com comida barata e tem alguém que sabe produzir, mas não pode produzir tendo prejuízo. Então alguém tem que pagar esta conta. E quem quer fazer abastecimento e deve fazer é o Governo Federal, portanto é ele quem tem que pagar essa conta aos agricultores do Brasil.
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